
Morte de Preta Gil reacende alerta sobre câncer colorretal
A morte da cantora Preta Gil aos 50 anos, vítima de câncer colorretal, reforçou a preocupação da comunidade médica com o avanço da doença em pessoas com menos de 50 anos. Antes mais comum entre idosos, o tumor que acomete o intestino grosso e o reto tem apresentado crescimento expressivo em faixas etárias mais jovens, sendo hoje considerado um desafio crescente de saúde pública.
No Brasil, Minas Gerais concentra cerca de 11,5% dos diagnósticos anuais, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em números absolutos, são mais de 4.600 casos no estado, entre os aproximadamente 40 mil registrados por ano no país. Um estudo recente revela que, ao contrário da tendência global de queda, a mortalidade por câncer colorretal aumentou 20,5% na América Latina entre 1990 e 2019.
Para a oncologista Daiana Ferraz, que pertence ao corpo clínico da Cetus Oncologia - clínica especializada em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem - o aumento das mortes pela doença por aqui pode ser atribuído a vários fatores, incluindo mudanças nos estilos de vida da população, como dietas menos saudáveis e sedentarismo. “Vale destacar ainda o acesso limitado a serviços de saúde e programas de rastreamento. Além disso, fatores genéticos e ambientais podem desempenhar um papel crucial no diagnóstico”, destaca acrescentando ser importante que as autoridades de saúde investiguem essas tendências e implementem estratégias de prevenção e detecção precoce para reverter o cenário.
Em âmbito local, outro dado preocupante, este do Instituto Nacional de Câncer (Inca), aponta que Minas Gerais é responsável por 11,5% dos casos anuais da doença registrados no Brasil. Em números absolutos, o nosso estado contabiliza 4.630 notificações do tumor entre os cerca de 40 mil diagnósticos estimados por ano em território nacional. “Os sinais que podem indicar suspeita de câncer colorretal, que acomete o colón, o reto e o ânus (parte inferior do intestino grosso), incluem mudanças nos hábitos intestinais, sangramento retal, dor abdominal persistente, fraqueza e perda de peso inexplicada. Diante desses sintomas, é importante buscar avaliação médica”, reforça a oncologista.
Ainda segundo Ferraz, a enfermidade pode ser prevenida com a adoção de um estilo de vida saudável, o que inclui uma dieta rica em fibras e baixa em gorduras saturadas, pratica de exercícios físicos, cessação do tabagismo (para quem fuma), além do limite do consumo de álcool. “Importante destacar também que o rastreamento é fundamental para a detecção precoce em pessoas de risco”, completa.
Colonoscopia: exame é aliado na prevenção e diagnóstico precoce
A colonoscopia é considerada o principal exame preventivo para o câncer colorretal. O procedimento permite identificar e remover pólipos — pequenas lesões que podem evoluir para tumores — antes que se tornem malignas. Também é indicado para investigar sintomas como sangramentos intestinais, alterações persistentes nas fezes e dor abdominal crônica.
Para que o exame seja eficaz, o preparo intestinal é essencial. O paciente deve seguir uma alimentação leve nos dias que antecedem o procedimento e adotar dieta líquida nas 24 horas anteriores, com o objetivo de garantir a limpeza completa do cólon. Isso facilita a visualização de possíveis alterações nas paredes do intestino.
O exame é realizado com a introdução de um tubo fino e flexível pelo ânus, equipado com uma microcâmera. A colonoscopia é feita sob sedação, dura de 20 a 60 minutos e exige um período de recuperação de cerca de duas horas.
Embora os pólipos possam surgir já na vida adulta jovem, a maioria dos casos se concentra em pessoas acima dos 50 anos. Por isso, o rastreamento deve começar aos 45 anos, com repetição a cada dez anos em pessoas sem histórico familiar. Já para quem tem antecedentes pessoais ou familiares, a recomendação é repetir o exame a cada cinco anos.
A colonoscopia não é indicada em casos específicos, como em pacientes com diverticulite ativa ou condições clínicas graves que impeçam o uso de sedação. Ainda assim, trata-se de uma das estratégias mais eficazes para reduzir o risco de câncer de intestino. Pacientes que realizam o exame periodicamente e removem pólipos têm risco significativamente menor de desenvolver a doença. Grande parte dos casos diagnosticados em estágios avançados ocorre justamente em indivíduos que não passaram pelo procedimento nos últimos dez anos.
Daiana Ferraz - Oncologista.