Câncer no sistema linfático: entenda a doença do cantor Netinho

Um dos artistas referência no axé music dos anos 90/2000, o cantor Netinho, de 58 anos, anunciou nesse sábado (29), que vai retornar ao hospital nesta segunda-feira (31), para realizar a segunda fase do tratamento do câncer no sistema linfático. Ele revelou o diagnóstico da doença no seu site oficial, no último dia 22, através da divulgação do boletim médico.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), linfoma é um tipo de câncer que se origina no sistema linfático, conjunto composto por órgãos (linfonodos ou gânglios) e tecidos que produzem as células responsáveis pela imunidade e vasos que as conduzem através do corpo. 

A doença surge quando uma célula de defesa do corpo, linfócito, sofre mutações e se transforma em uma célula maligna capaz de se multiplicar descontroladamente.  

Existem, vários fatores de risco para essas mutações, como tabagismo, exposição à radiação e envelhecimento. Pacientes imunossuprimidos também fazem parte do grupo de risco assim como os pós-transplantados.  Há, obviamente, situações em que a pessoa estará exposta a um fator de risco a vida inteira e não desenvolverá a doença, assim como pode acontecer o oposto: alguém não exposto claramente pode ter a enfermidade.

Os sintomas dos cânceres linfáticos são variados: os mais comuns, segundo a literatura médica, são perda de peso repentina, sem dieta ou atividade física, fadiga constante e surgimento de adenomegalias, as famosas ínguas, que podem aparecer em qualquer lugar do corpo, sendo as mais comuns no pescoço, axilas, clavículas e virilha. Outros indícios suspeitos são a presença de febre insidiosa - febrícula vespertina - e sudorese muito intensa que ocorre durante todo o dia, sendo mais intensa à noite. Não é muito incomum, também, aumento do fígado e do baço. 

Vale lembrar que existem doenças linfoproliferativas crônicas em que o paciente viverá com ela por anos, e as agressivas, que logo que surgem já causam grandes problemas, como foi o caso do prefeito Fuad Noman, que faleceu recentemente por causa de complicações relacionadas à enfermidade, diagnosticada há menos de um ano. Nesses casos, é fundamental que a intervenção médica aconteça o mais rápido possível para assim tentar controlar a doença ainda no início. 

 

Tratamento

 

Graças aos avanços tecnológicos no desenvolvimento de estudos moleculares somados ao melhor entendimento da doença, os tratamentos contra o câncer linfático, têm se tornado mais promissores. “

Cada vez mais nós temos recorrido apenas às terapias-alvo, direcionadas ao local onde está concentrado o câncer e que causam menos lesão a outros órgãos. É óbvio que isso vai depender de uma infinidade de fatores relacionados à neoplasia e ao paciente, mas elas têm se mostrado cada vez mais eficientes. Há ainda, a possibilidade de as terapias-alvo serem associadas à quimioterapia clássica.

O diagnóstico precoce pode ser possível.  Nos casos em que a descoberta da doença não é tardia e o paciente ainda tem a sorte de não ter comorbidades, as chances de cura acabam sendo mais altas, não apenas pelo fato de a doença não estar avançada, mas sim devido à capacidade do paciente de tolerar uma quimioterapia completa sem sofrer sequelas. Ter um paciente que não tolera a quimioterapia é dar chance ao câncer. 

Quando o assunto é prevenção, de modo genérico, é possível tentar evitar o tumor. Sabemos que, com exceção do envelhecimento, os demais fatores de risco são evitáveis. Por isso um estilo de vida saudável, sem tabagismo e com dieta balanceada, rica em fibras, vegetais, proteína animal de boa qualidade, além de atividade física, são medidas para prevenir doenças oncológicas no geral, não apenas o câncer no sistema linfático.

Diante de qualquer sintoma persistente e suspeito da doença, o ideal é procurar um clínico geral, que, se julgar necessário, encaminhará o paciente para um hematologista. O diagnóstico precisa ser realizado o quanto antes.

 

Números do câncer linfático

Mais de 735 mil novos casos de linfoma são diagnosticados em todo o mundo a cada ano, de acordo com a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). Eles representam cerca de 4% de todos os tipos de câncer, e com o envelhecimento da população, a incidência da doença tem apresentado um aumento significativo.

 

Edson Carvalho – Hematologista